Home

 

 

 

 

 

 

Antonio Pamies

Ao longo da minha pesquisa para a exposição reli uma infinidade de álbuns. Uma das redescobertas foi uma prancha numa recolha de trabalhos da El Víbora que uma amiga me tinha oferecido há muitos anos.

A El Víbora foi uma revista de banda desenhada underground espanhola publicada entre 1979 e 2005, e que chegou a ter uma tiragem de 80 mil exemplares. Fenómeno curioso, porque a escola maioritária na Europa foi durante décadas a franco-belga, e a El Víbora referia-se explicitamente – até na designação: “comix para superviventes” - à escola underground norte-americana, com uma popularidade que não teve correspondência noutros países europeus. (Aliás, ao contrário do resto da Europa, a designação comum para a BD em Espanha é comic, historieta ou ainda tebeo)

A prancha que me chamou a atenção foi uma história de página ("Nebdul got the blues") de um negro que tentava tocar um saxofone e dele saíam sons desagradáveis até ele lograr “desentupi-lo”. História sem história, tipicamente underground, absurda e de um humor sem qualquer tipo de elaboração, de um traço rude.

Assinava a história um tal de Pamiés, Antonio Pamiés, com poucas referências na net, com colaborações na El Víbora até aos anos 80. Intrigado, perdi algum tempo com a pesquisa na internet, mas de Antonio Pamiés, nem vestígios. Encontrei alguns outros Antonio Pamiés, mas do desenhador, nada.

Um dos nomes que me chamou a atenção foi um tal Antonio Pamiés-Bertrán, professor catedrático da Universidade de Granada, director do Departamento de Linguística Geral e Teoria da Literatura, a quem acabei por enviar um email, no sentido de saber se se tratava do mesmo indivíduo, solicitando-lhe que ignorasse o meu email no caso contrário. Eu escrevo bastante mal em inglês e em francês, mas sou completamente incapaz de escrever em castelhano, tendo optado por me dirigir a Pamiés em inglês.

Respondeu-me no dia seguinte num português bastante correcto, autorizando-me a expor a história, confirmando-me que tinha sido, “noutra vida”, desenhador de “quadrinhos” (e violinista de jazz amador), mas que se tinha profissionalizado como professor de linguística. Mais me disse, com humor, que tinha deixado de desenhar como protesto contra a invasão do mercado pelos manga japoneses. Ele teria feito outros trabalhos de mais qualidade sobre Jazz, mas tinha recentemente vendido todos os seus trabalhos de BD para a Fundação "Fondo Lafuente".

Os meus agradecimentos a Antonio Pamiés-Bertrán

"Nebdul got the blues”, pg.143, in Antologia Española del Underground, El Víbora, Pamiés, 1981.